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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Minha Hora Favorita

Madrugada é a melhor hora do dia

É a hora que ninguém vai me perturbar

É quando eu relaxo e esqueço de tudo

Sento-me na minha poltrona

Um bom livro ao colo

E posso ler em paz enfim!

Durante a madrugada eu vou relaxar

Então ninguém pense em me chamar

Estou tomando meu Malbec

E vendo um bom filme do Woody

Chove lá fora e está frio

Estou bem aquecido nas cobertas

E será assim até de manhã

Durante o dia, todos vêm até mim

Não me deixam ficar parado

É tanto problema que nem sei por onde começar

Não consigo pensar num só dia

Em que eu não quisesse que chegasse a meia noite

No meu pequeno refúgio

Quando marca zero o relógio

Sem que ninguém me interrompesse!

Ainda são três horas, e posso continuar a escrever

Pois agora tenho a criatividade sem qualquer obstrução

E não ouvirei o chamar do celular

Pois já apertei o botão de desligar

Enquanto não amanhece ainda

Vou tomar meu chocolate quente

Aproveitar uma música tranqüila

Infelizmente o dia tem que retornar

Mas não irei nem um pouco me lamentar

Quando o despertador for me acordar

Dizendo que tenho horas de trabalho pela frente

Vou me lembrar que quando o sol se pôr

E a lua estiver alta no céu

E todos já tiverem ido dormir

Como se tivessem medo da madrugada,

Minha hora favorita irá começar!


Olhando para o relógio

Pronto, aqui estou. Cheguei dez minutos adiantado. Dessa vez ela não vai reclamar. Toda vez é assim...:

-Poxa amor, você sempre chega atrasado!

É sempre essa ladainha. Ela sabe que moro longe e que dependo dos horários dos ônibus ou da boa vontade do meu pai para que eu saia com o carro...

Três da tarde... A hora marcada. Onde está a “Senhora Relógio”? Se fosse eu, o mundo acabava! Toda vez sou eu o atrasado, o irresponsável, quem não dá a mínima, que prefere ficar com os amigos... Hoje é ela quem vai ouvir essa conversa toda. Ah, como eu sou mal!

Três e quinze... Meu amor, espero que um dilúvio tenha atrasado você. Se bem que o tempo do Noé já passou, essa desculpa não cola! Meu Deus, o que estou dizendo? E se algo ruim aconteceu?!

Calma, calma... Eu já saberia se algo ruim acontecesse. Ela ligaria pra mim. Mas... Porcaria, meu celular não recebe ligações agora. Eu sabia que deveria ter ido eu mesmo pagar... É, não deve ter acontecido nada... Controle-se... Bem, estou calmo...

Três e vinte... Acho que vou andando pelo caminho que ela vem. Boa idéia! Assim ela sabe que eu cheguei tão na hora que fui andando até lá pra não perdermos tempo. Vou então!...

Três e meia... Ela já deveria ter aparecido! Dá pra cobrir uma boa distância em dez minutos. Supondo que ela não tenha parado, claro, ela já deveria ter se encontrado comigo... Êpa! Será que viemos por caminhos diferentes? Droga! Se eu for correndo e ela estiver lá, vou ficar ouvindo aquela ladainha de novo! Se eu for andando, vai dar no mesmo. Vou andando então.

Quarenta minutos de atraso... Nem eu consegui um prodígio assim. Droga, se ela chegou e sabe que está tão atrasada – claro que sabe – e não me vir lá vai pensar que eu me mandei! Sebo nas canelas!

Três e quarenta e cinco... Que bom, ela não chegou. Ou chegou, não me viu e foi embora? Deus, que não seja isto! Ela sempre me esperou e ia ficar muito triste se pensar que eu não fiz o mesmo quando a vez foi dela... Não, ela ainda não chegou, tenho certeza disso! E como eu a amo, vou esperar!

Três e cinqüenta e cinco... Eu vou comprar uma medalha para ela! Cinqüenta e cinco minutos de atraso?! Eu não estou fazendo papel de namorado, mas de besta! Deve ser aquela amiga dela... Eu sabia que aquela nojenta tinha algo contra mim. Ela me paga! Isso não se faz. Jogar minha namorada contra mim só por causa de coisa nenhuma...

Quatro horas... Lá vem ela... Vamos ver o que ela me diz. Primeiro ela fala, depois eu... Ah, como eu sou mal!

-Oi amor. Poxa, estou orgulhosa. Chegou na hora, hein? Pensei que você ia fazer a burrice que o namorado de minha prima fez: não atrasar em uma hora o relógio por causa do fim do horário de verão... Bem, vamos?

Quatro e um... Sem comentários...

Desabafo de um leitor compulsivo

Um dia desses lembrei de um antigo colega meu, que era leitor tão viciado quanto eu, criticar algumas pessoas por estarem lendo revistas de fofocas ou então autores como Paulo Coelho. Dizia ele que essas não são leituras que prestem e que todos deveriam ler coisas mais intelectualizadas como, por exemplo, Machado, Shakespeare, Molliére. Ele olhou para mim buscando aprovação, pois alguns destes autores estão na minha lista de favoritos, mas eu instantaneamente lembrei de como comecei minha vida de leitor compulsivo: lendo revistas em quadrinhos.

Eu tinha uns 13 anos quando comprei minha primeira revista em quadrinhos. Era do super-homem. Logo em seguida comprei de vários outros e chegou uma época em que eu comprava oito por mês. Um dia as revistas faltaram, não lembro bem o porquê, então tive que me entreter com outra leitura. Ia às bancas por hábito, meio que rezando para aparecer algo mandado dos céus para eu ler. Pior é que veio: um livro falando de Albert Einstein. Acabei comprando e passei um mês para lê-lo todo. Daí pra frente, a leitura acabou virando meu principal gasto, fazendo de mim um espécime raro, principalmente por causa da idade.

Parando para pensar um pouco, ainda bem que havia gibi e dou graças por isso. Nunca gostei dos livros que me mandavam ler no colégio. Lia mais por causa da nota do que por gosto mesmo, o que acabou fazendo com que eu tivesse um certo preconceito pela literatura, vejam só. Francamente, esse é o maior erro do ensino: não incentivar o gosto pela leitura.

Nos mandam ler livros sobre autores que mal ouvimos falar, nos dão um prazo para ler e interpretar e quando chega na hora da prova, na maioria das vezes nos dão perguntas bobas para responder. Vou dar um exemplo real. Meu professor de literatura iria cobrar Iracema na prova. Naquela época eu só lia gibi. Li com toda a força de meu ser e consegui terminar num tempo recorde de três semanas. Passei duas tardes com um grupo da sala falando sobre o livro e chegamos, pelo que me lembro, a várias interpretações interessantes e todas corretas. Chegou na hora da prova e qual a pergunta? Para a minha decepção era: qual a região onde se passa a história?

Três semanas para uma pergunta tão idiota assim?! Tinha coisa melhor não? Vejam só como isso desestimula. Na próxima prova, seria cobrado Senhora. Prevendo já que a pergunta seria outra vez um insulto ao meu esforço e ainda pior, inteligência, não li nada do livro. Nem uma linha sequer. Só li o título e o nome do autor, só para não esquecer que foi Alencar quem o escreveu. Vem agora o tragicômico do ensino brasileiro... Aquele grupo com quem me reuni era muito preocupado com notas, coisa que nunca fui e ainda bem que sou assim. Leram o livro todo, interpretaram, perderam uma semana em tardes para discuti-lo, pensaram até em fazer cola, e eu lá, na minha, um insulto pleno à obra de um mestre da literatura.

Então chegou a prova. Eu, um colosso de ignorância sobre a história do livro. Veio então uma pergunta tão vazia quanto... Quanto qualquer coisa que seja tão vazia assim. “Como termina a história?” Respondi em três palavras: Eles ficam juntos. Esperei com ansiosidade pela minha nota. Soube que houve uma pessoa daquele grupo que anexou uma página de seu caderno à prova, pois a resposta havia sido demasiada grande. Eu tirava toda a sorte de piadas, mas sabia que se minha resposta fosse negada, passaria um bom tempo como a piada encarnada da sala.

Veio então a nota. Tirei dez. Um dez bem grande e gordo. Depois disso, ninguém mais na minha sala conseguiu terminar um livro que o colégio mandava ler. Eu a cada mês aumentava minha biblioteca e sempre aparecia com um livro debaixo do braço. Fazia estoques de livros, comprava-os em promoção, mesmo sabendo que só os leria em alguns meses. E o resto? Lia o que meu amigo chamou de “leitura que não presta”.

Então alguém me diga como alguém que detestava literatura e comprava só Batmam, Superman e companhia, agora tem livros de Shakespeare, Julio Verne e até de Foucault? Eu respondo: acidentalmente eu tomei gosto pelos livros, gosto este que nunca a escola me proporcionou.

Na escola é como eu disse: você lê por obrigação de tirar nota. E pior, lê algo que para a sua idade é na maioria das vezes intangível em termos de compreensão. Na minha opinião, o que importa não é você dizer que já leu este autor ou aquele outro, mas que tenha lido algo e tenha aprendido algo, se estimulado a ler mais e, principalmente, se divertido, o que é mais importante. Com o tempo, você pode adquirir o gosto ou não, mas pelo menos não sai dizendo com todo o orgulho do mundo que não gosta de ler nada e ir orgulhosamente para o vestibular de analfabeto letrado que mais parece ultimamente voluntariado que concurso.

Não tenho vergonha de dizer que foi Clark Kent e Bruce Wayne que me levaram a ler alguns dos maiores clássicos da literatura mundial. Foi o modo que consegui para me interessar por leitura. Teria vergonha sim de dizer: Martelaram tanto no colégio que agora comecei a ler. Leitura não é obrigação, é gosto. Leitura não é martelação, é aprendizagem. Leitura não é conseguida por notas, mas por motivação justificada.

Agora o que me frustra mais é que este texto provavelmente vai ser lido por quem já gosta de ler. Então, tenho que arrumar outro jeito de atrair as pessoas para este maravilhoso universo. Ainda bem que produzir texto é outra história...

Maldito seja meu telefone celular

Vou ser bem honesto: odeio meu celular. Odeio é a palavra correta, não consigo achar outra melhor. E por que é que eu não me livro dele? Ora, como toda maldição, não é tão fácil. Antes, quando não tinha celular, a vida podia até ser mais complicada, mas eu gostava.

Enquanto eu estava no cinema, não tinha ninguém me ligando pra ir comprar pão; enquanto namorava ninguém me ligava perguntando de que horas chegava ou como é que se liga o videocassete ou para dizer que não sei quem ligou para minha casa me procurando. Eu não era interrompido em nada e quando sentia necessidade de fazer uma ligação, comprava um cartão telefônico ou então usava a cara de pau que Deus me deu para pedir permissão para usar o telefone, sempre ligação local, claro.

Então veio o desastre, até parecendo um conto de Edgar Alan Poe. Minha mãe se cansou de não saber se eu tinha sido seqüestrado pelo Don Corleone ou abduzido pelo George Lucas e me deu um celular. "É para você puder se comunicar com a gente", me disse. Até parece que eu não fazia isto antes.

Fiquei com aquele aparelho nas mãos, como se estivesse olhando meu obituário. Àquela época, todos os meus amigos tinham seus celulares e sempre que o tiravam do bolso, faziam uma cerimônia quase religiosa. Limpavam a garganta, procuravam o número com o teclado e soltavam um sorriso sarcástico para mim, pois eu ainda estava no mesmo patamar de Bell, dependendo da telefonia fixa. Agora eu saía da pré-história e saltava para o futuro.

Em cinco minutos aprendi o básico e nos próximos cinqüenta e cinco, fiquei jogando snake 2. Pelo menos o jogo era legal e eu me tornei destaque nele. Na primeira semana com meu novo aparelho celular no bolso, eu o tirando de vez em quando para ver a hora, talvez para me amostrar um pouco para os que não tinham ainda aquilo que me aproximava dos Jetsons, o milagroso aparelho. Na segunda semana, ainda convencido de que aquilo era apenas um brinquedinho que por corujisse materna acabou parando em minhas mãos, decidi que não o levaria para o colégio.

Devo dizer o quanto senti falta. Parecia meio cafona olhar as horas no relógio e não poder passar mensagens idiotas cheias de desenhos e frases feitas para meus conhecidos. Na aula de matemática senti mais falta ainda, pois não tinha mais a calculadora. Tive que fazer as contas no velho método do "lápis-papel-borracha".

Cheguei em casa e vi que tinha oito ligações e cinco mensagens recebidas. Retornei cada uma das chamadas não atendidas e o que recebi como resposta? "Ah, liguei pra saber se a fila do lanche estava grande", "Não foi nada, era só pra dizer que o filme não tá passando", "Foi mal, liguei errado". Quanto às mensagens... "Te dolo muitcho, miguinho", "Vc ñ tem 1 cd p/ me emprestar ñ?"

Eu fiquei me remoendo de saudade por causa disso?! Então decidi deixar o celular desligado, eu nunca mais usaria outro até que tivesse uma vida agitada, cheia de compromissos, quando eu deveria tomar decisões num piscar de olhos e coordenar a ação de várias pessoas à distância e em pouco espaço de tempo. Minha determinação me levou longe e duas horas depois eu estava novamente com o celular ligado e dentro do bolso.

Depois disso me conformei. Com o tempo algumas coisas ficaram realmente mais fáceis, mas gosto mais dos tempos antigos. Quando eu e meus amigos combinávamos para ir ao cinema, era uma operação logística danada de grande. Ligávamos um para o outro várias vezes, fazíamos lista de quem ia, quem não ia e quem estava em cima do muro. Combinávamos um lugar e dávamos um prazo para cada um chegar. Agora... "Bora para o cinema, o filme começa em meia hora" "Vou ver..."

Pior foi quando começou a corrida celularista. Muitos invejando poucos por terem celulares menores, mais horrivelmente futuristas em termos de design, com mais jogos, viva-voz, toques polifônicos... Junto a isto vieram as grandes promoções. Todos trocando celulares, barganhando para conseguir o melhor pelo menor preço e rindo dos dinossauros que eram uns cinco centímetros maiores e cem gramas mais pesados.

Eu consegui me esquivar desta mesquinharia toda, mas acabei trocando o celular por outro por causa de uma promoção que veio realmente a calhar. Agora tenho tantos minutos que fico ligando para o povo só para gastar mesmo.
O celular acabou virando uma parte tão importante de minha vida quanto um dedo na mão, ou a mão toda dependendo de quantos toques polifônicos. Não tenho mais paz e todo mundo me encontra. Tudo bem que posso dizer que a bateria está descarregando, pelo menos esta porta de saída eu tenho...



Os dois Stevens – Parte 1

O Steven fez o mundo chorar na despedida de E.T., nos deu o arqueólogo Henry Jones Jr, nos levou ao futuro e ao passado, nos fez ter medo de ir à praia, que nos mostrou extraterrestres simpáticos e convidativos. O outro Steven nos deu também visões realistas e bem embasadas da segunda guerra, um Pinóquio futurista, invasores que destruíram nosso planeta, uma perseguição a terroristas e uma visão do holocausto. Ambos são Spielberg, a mesma pessoa, o mesmo diretor e produtor, o homem que evoluiu do sonho à realidade e à realidade do sonho.

A carreira de Spielberg teve basicamente duas fases: a primeira mais criativa, diversificada, em que o homem nos surpreendia com personagens cativantes e situações surreais. Nesta fase a suspensão de descrença era a regra. Por suspensão de descrença, diga-se a atitude do expectador de aceitar o que lhe é mostrado, sem usar os erros inerentes e a falta de lógica como armas para desacreditar a trama ou a mensagem que lhe é passada. Sem a suspensão da descrença, esta fase do diretor não pode existir.

Spielberg lida com nosso imaginário, nosso medo do desconhecido aos nossos anseios e sonhos universais. Em Tubarão, Contatos Imediatos do 3º Grau e Jurassic Park há três suspenses. O primeiro de um assassino sem nenhum impedimento moral, sorrateiro (ou deveria dizer submerso?), que mata por ser o que sabe fazer e o que o mantém vivo e nós temos que enfrentá-lo a todo o custo. Já no outro, o suspense é o de encontrar seres evoluídos, que poderiam destruir o mundo, mas no final, a mensagem de um contato pacífico é o que fica. O último é um misto dos dois primeiros, com muito mais do tubarão assassino, claro, mas é impossível não entrar na onda de emoção e euforia dos paleontólogos quando vêem seus objetos de estudos vivos à sua frente.

Nossos arquétipos também estão dentro desta fase. Indiana Jones, o intrépido arqueólogo, com trejeitos, chicote, que só levou uma bala de raspão em mais de mil que lhe atiraram e enfrentou os nazistas, conseguindo até um antológico autógrafo de Hitler, nos traz o arquétipo do herói indestrutível. E.T. é o melhor amigo do qual nunca queremos nos separar, aquele que faz nós nos encontrarmos, que nos mostra o melhor que temos a oferecer. Temos uma idéia do primeiro grande caso de Sherlock Holmes, vemos o grupo com a amizade inesquecível e uma aventura que muitos gostariam de ter até hoje com os Goonies e vemos um Peter Pan adulto reviver sua juventude, nos mostrando a eterna criança que carregamos e que muitas vezes negligenciamos.

Em De Volta Para o Futuro, a ficção científica lida com o paradoxo do avô, com a responsabilidade diante de um poder que pode, e muda, a história. O caricato Dr. Brown, com seus cabelos esvoaçados, olhos esbugalhados, retratos de cientistas, um homem que dedica seu coração e mente à ciência a ponto de não ter na vida pessoal ninguém além do seu cachorro e de Marty McFly, o típico oitentista, também caricato, que anda de skate, falando algumas gírias, mas de atitude, sempre apaixonado por sua namorada. A visão otimista do futuro, a diversão que sentimos que foi para o diretor em filmar no velho oeste e nos anos cinqüenta, o mar de referencias tanto auditivas quanto visuais, os vilões da mesma família, sendo este um dos filmes em que Spielberg mostra sua maturidade de meninice cinematográfica, um sonhador nato.

Estes filmes, além do trabalho dado nos personagens, vemos os closes, os grandes ângulos, trilhas empolgantes, quase todas de John Williams, o uso de efeitos especiais que ajudam, mas não atrapalham a história, e uma brincadeira atrás de outra seja nas tramas impossíveis, nas resoluções improváveis mas críveis dentro do universo criado, Steven se realiza, como o Peter Pan adulto que descobre que pode ainda ter algo de criança dentro de si. A obra nos trás um alívio da dura realidade, uma fuga sempre para um mundo diferente, em que piratas existem, brontossauros podem ser alimentados na boca, Nazistas estão sempre no seu pé ou seu melhor amigo nem daqui é.

Continua...

Os dois Stevens – Parte 2

Até mesmo Spielberg envelheceu. Ou melhor, cresceu e amadureceu. Ao longo dos anos 90, Steven saiu um pouco do seu reino de fantasia para nos dar um pouco mais de realidade e frieza. Os nazistas caricatos que frustramente nunca conseguiram derrotar Henry Jones Jr, agora são bastante reais, executando fria e calculadamente os judeus do gueto de Varsóvia aos olhos de um Schindler que de pura ignorância e aceitação ao regime de Hitler, torna-se um homem novo, decidido a salvar quantas vidas puder. Steven filmou quase tudo em preto e branco, usando suas tomadas panorâmicas de praxe, mas também aproximando perigosamente os closes dos olhos do espectador, como se nos forçasse a entrar na mente do alemão e sentirmos um pouco de sua inexplicável, mas tangível, transformação de atitudes e caráter. Não foi Oskar Schindler um grande herói, mas ele mostrou o que um homem determinado e com recursos pode fazer. A cena mais tocante, um dos momentos Spielberg, é no saque e massacre do gueto, quando apenas Schindler parece notar a pobre garota de traje vermelho vivo, daqueles que irritam a retina, um insulto visual, como se fosse a parca e despercebida moral, inocência e esperança que pareciam não ter espaço naquele mundo de trevas.

Mas, mesmo sendo agora um realista, ele se permitiu um sonho. Steven sempre gostou da Segunda Guerra Mundial e de sua mente e genialidade, aliadas ao bom amigo Tom Hanks, mostrou o que poderia ser a melhor representação do Dia D jamais feita, usando todas as referências que tinha à mão, de literatura, testemunhos e outras produções, fazendo deste filme referência aos seus predecessores, numa inversão raras vezes vista. Os nazistas ainda estão lá, claro, e matam os mocinhos, um fogo cruzado que vai tornando a vida de Hanks cada vez pior, tudo para resgatar um tal de Ryan, que no final tem a missão de ser o melhor homem que pode ser, viver uma vida digna, em honra dos bons homens que deram sua vida para salvá-lo quando nem a invasão da Normandia tinha se consolidado. Mas ainda naquele inferno que foi a invasão, há sempre os momentos Spielberg, ficando o conselho para nunca tirar seu capacete e esperar um pouco para ver se foi mesmo Hanks que com umas balas destruiu um tanque de guerra alemão.

Retornando um pouco ao seu velho mundo que o consagrou, ele explora a boa vontade e carisma de Hanks, que vai viver num aeroporto, num terminal na verdade, numa história que Saramago muito bem poderia ter escrito. O homem que está numa situação absurda, embora não impossível, que aprende primeiro a sobreviver, depois a se comunicar, depois a usar seus dons para melhorar sua nova casa, o terminal, e desta forma conquista a admiração de todos, até mesmo do seu rival, muda suas vidas para melhor, faz a diferença num lar que não é o seu, mas que ele o fez ser. A complexidade é crescente ao mesmo tempo que tudo se descomplica, já o texto bem escrito do roteiro foi muito melhorado tanto pela atuação quanto pela direção, enchendo-nos de lições de vida que serão vistas, re-vistas e descobertas a cada vez que o filme é assistido.

Ainda assim, Steven permanece na sua nova fase de realidade com pouca ou nenhuma fantasia. Quando está na companhia de extraterrestres outra vez, primeiro numa série depois um filme para cinema, eles não são simpáticos como ET, mas são mais misteriosos. Mas como um fruto não cai longe do pé, Taken poderia ser a revisão mais longa, árida e dramática da história dos seres superiores que de repente se interessaram por nós. Muito diferente da refilmagem do clássico A Guerra dos Mundos, com os extraterrestres mais calculistas e assassinos da história do cinema, no qual Steven trabalha com muitos planos de detalhes e quando nos mostra uma visão panorâmica, medo é a palavra que ele quer passar.

Em A.I., na boa companhia do saudoso Kubrick, Steven conta a história do Pinóquio outra vez, mas poupa muito do açúcar do conto infantil, ainda que exista a eterna polêmica do quanto das idéias do falecido Stanley Kubrick ele seguiu, modificou ou amenizou. Ainda assim, há quem se cative com o pequeno andróide e os personagens que ele encontra pelo caminho. No fim, são nossas crias que herdaram o mundo que destruímos, contrastando com a visão futurista otimista dos anos oitenta que deu origem a uma das mais amadas trilogias do cinema.

O fato é que tanto um como o outro Steven, mesma pessoa, mesmo Spielberg, algumas vezes se desencontraram, resultando em obras questionáveis, outras vezes fizeram brilhante combinação. Spielberg dá tudo de si nas suas histórias e séries, como produtor e diretor. Na sua ímpar filmografia, ele criou heróis modernos, retratou com dignidade a indignidade humana, e se tornou um nome que é sinônimo de competência.

Do jovem e audacioso ao maduro e cauteloso, que agora faz filmes após um ou dois anos de ausência, sem aquele fervor criativo de vinte ou trinta anos atrás, Spielberg vem como um criador de uma ponte entre a realidade e a fantasia e com genialidade nos convida sempre a ir de um lado a outro, numa travessia sempre prazerosa, provendo o cinema moderno de uma mitologia, com todos os personagens que gostaríamos de ser e de enfrentar numa grande aventura.

Sobre ser Dark

Não tenho nada com o tema Dark utilizado nos filmes recentes do Homem-Morcego. Para falar a verdade, já estava na hora dele ser tratado como é nos quadrinhos, assim como seus vilões e personagens secundários. Batman é um personagem sombrio, mesmo sendo o herói. Ele não nasceu em outro planeta, não recebeu um anel de poder, não tem mutações genéticas que lhe dão poderes, nenhum bicho lhe picou, ele simplesmente traduziu seus traumas e sede de vingança e justiça pela morte dos pais num arquétipo. Ele decidiu ser super-herói. Mas não venho aqui para falar sobre meu personagem favorito dos quadrinhos, mas da deturpação que fizeram da idéia por trás do tom denso e muito bem aplicado nos recentes filmes.

Por ter feito o sucesso que fez, em comparação ao modesto Superman – O Retorno de um ano antes, O Cavaleiro das Trevas meio que abalou o mundo. O magistral coringa de Heath Ledger, o sofrimento pelo qual Wayne passa, a cidade entrando num verdadeiro caos, um circo com um palhaço sinistro no comando, e o desfecho atraíram o público muito mais do que se poderia imaginar para um filme do gênero. Portanto, por que não usar da mesma fórmula?

Dezoito meses atrás, mesmo antes da estréia de Batman, havia uma série de comentários sobre o novo filme do Homem de Aço, do primeiro do Lanterna Verde, até um filme da Liga da Justiça estava sendo considerado. Então depois do filme do Morcego, os roteiros seriam revisados, a palavra “dark” ou a expressão “uma versão dark”, surgiu, remetendo ao sucesso mundial recente. Não ficou só nos filmes sobre heróis de histórias em quadrinhos, espalhou-se para os demais gêneros, poupando apenas uns poucos.

Não nego que este filme em particular redefiniu o que tínhamos. Na minha opinião, será difícil fazer um terceiro ainda melhor. Mas o filme deu certo não por ser “dark”, ele não tinha como não ser diante da premissa seguida, e sim por ter sido o mais bem escrito até então. Escrito, trabalhado e bem cuidado, com uma estratégia de marketing das mais inovadoras e por que não dizer ousada. Isto é que fez de O Cavaleiro das Trevas superior e imbatível em relação aos antecessores. Não tinha como não ser aquele tema, mas poderia muito bem ser uma carnificina sem motivo nenhum, um vilão tão assassino que se mata como personagem no primeiro ato. Vale lembrar que a parte sofrível do último filme do Homem Aranha é exatamente quando ele fica mau... dark! Mal escrito, mal dirigido, minutos que quase botam a perder mais de 7 horas da trilogia.

Talvez isso não foi bem analisado na indústria cinematográfica, que mais uma vez viu o resultado antes de ver a fórmula que o fez. Usou e abusou da palavra, contaminou os meios de comunicação e pôs na geladeira projetos que já estavam bem encaminhados, tudo para colocar uma roupagem mais... bem, dark! Confundiram a palavra com outra que sempre faz falta, “realismo”. Claro, por realismo não é acreditar que um homem pode voar, mas acreditar que se houvesse e alguém tentasse destruir ou dominar o mundo, a cidade, a vila, a sociedade fosse exatamente daquele jeito. É uma suspensão de descrença não tão suspensa assim, é uma aceitação analítica e crítica de uma fantasia ali mostrada, que nos traz as emoções que podem e devem ser passadas.

Eu não quero ver o Último Filho de Kripton dark, não quero ver o Amigo da Vizinhança, vulgo Homem Aranha, ou qualquer outro herói fora do que sua proposta e universo são. Não quero vilões que devam ser mais insanos do que realmente são. Pingüim não irá gargalhar, Luthor não falará como ventríloquo. Parker não falará rouco quando usar a máscara, Hal Jordan não se esconderá sob sua máscara. Quero-os bem escritos. Realistas. Até fantásticos. Algo que chegue perto do superlativo, mas me traga alguma verossimilhança.

O Cinema nunca foi mudo

Para meu primeiro texto nesta coluna, resolvi falar de uma agora pouca valorizada e mesmo esquecida época do cinema, a época em que o cinema ainda não falava, quando era "mudo".

Não concordo com este termo, pois a sétima arte não se expressa apenas por palavras. Será que Chaplin não se fazia entender? Alguém deixou de rir com os filmes iniciais de O Gordo e O Magro? Valentino, Mary Pickford ou Joan Crawford deixaram de causar suspiros? E hoje em dia, será que um filme ótimo com uma trilha sonora sofrível não diz nada? Um som nos faz lembrar de um filme inteiro. Faça um teste. Qual o tema de Rocky? De superman? De indiana Jones? E Titanic?

Mais de cem anos atrás, quando o mundo admirava as mentes criativas dos irmãos Lumiére e de Georges Melies, estávamos a três décadas de vermos os primeiros filmes



falados. Alguém, num dado momento, percebeu que a platéia não se deslumbrava mais como antes, bocejando, não tendo as surpresas esperadas nas cenas de maior impacto e no climax no filme. Alguém decidiu tocar uma pianola, depois um piano de armário, como se faziam nos espetáculos de teatro, e tudo mudou. Um trêmulo quando o vilão ameaçava a mocinha, o allegro quando dois amigos se encontravam, uma melodia mais doce quando saía uma declaraçaõ de amor, tudo isso prendeu a atenção e aumentou as emoções daqueles que ficavam diante da grande tela.

Mesmo assim, havia um outro ruído, que permanece até os dias atuais, e que um dia irá desaparecer: o do projetor funcionando. Aquele velho tec-tec-tec que quando para antes do tempo faz todos olharem para trás, irritados, como que tirados do mundo, tensos, com medo que o filme não volte mais. Nas primeiras sessões, na década de 1890, no início da era de ouro da modernidade, aquela estranha máquina no fundo da sala escura, sempre fazendo seu barulhinho, mostrava ao mundo uma fração do seu potencial. este som, este ruído, como já dito, permanece até hoje e é uma pena que desapareça um dia.

Então, tal qual uma criança, que quando pequena incialmente balbucia, ri e chora, e que depois aprende a falar, mas que desde cedo dá suas mostras de emoção. Ainda assim, não dizemos que a criança pequena é muda, dizemos que ela faz barulho. Da mesma forma cresceu o cinema, de um ruído puramente mecânico mostrando que o projetor estava ligado, ao piano, depois orquestra, que traduziam a emoção que se queria passar, indo para as cartelas com as poucas "falas" dos personagens ou da narrativa, para depois finalmente, e no começo um horror aos ouvidos de muitos, as primeiras palavras realmente faladas, audíveis. O cinema não era mudo, só estava na primeira infância...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Seis meses depois... 13 de Junho de 2003

Seis meses que o colégio tinha acabado. Eu mal via mais meus velhos amigos. Estava isolado estudando, numa aposta maluca comigo mesmo de que não precisaria de professor nenhum para passar em medicina. Passava as tardes quieto numa mesa enorme que tinha no Mais lá em Caruaru, com meus livros e cadernos e anotações. Perdi contato com todos. Everton fazia fisioterapia em Recife, outros como Cássio, Anderson e Osmar estavam em seus cursos também. Felipe estudava no Atual, Pedro e muitos outros no Contato. Sabia deles por uma ou outra ligação ou encontro fortuito no meio da rua. No dia anterior, 12, eu estava profundamente deprimido, como todo solteiro que perdeu alguém e não tinha com quem comemorar. Até fui ao Pátio do Forró, mas não durei meia hora. Não vi nada que me agradasse por ali e me encontrei sozinho no meio daquela multidão.
O dia treze foi como outro qualquer. Acordei ao meio dia, uma da tarde estava a caminho do Mais e após algumas conversinhas, comecei a estudar. Passou o tempo e logo era noite. Não fui para casa desta vez, resolvi caminhar pela cidade. Pela primeira vez Caruaru me pareceu vazia. Fui a uma praça, na qual um ano antes eu tive alguns momentos especiais com uma pessoa e no ano anterior tive mais especiais ainda com outra, e sentei-me num dos banquinhos, para lembrar de tudo. Foi triste para mim perceber que estas duas garotas não mais estavam em minha vida.
Passei ainda por outros lugares. Era incrível como eu ficava recordando tantos bons momentos de antigamente, e até dos maus. Horrível mesmo era perceber que eu estava praticamente sem ninguém.
Chegou um momento em que decidi visitar o Diocesano. Estava no intervalo do cursinho da noite, mas mesmo assim fui à minha sala do terceiro ano e sentei-me exatamente na minha cadeira. Estava escuro, do lado de fora já chovia muito, o dia todo foi frio. Ali fiquei olhando para os lados, como que procurando os velhos rostos dos meus amigos. Ao fechar os olhos, por um instante, ouvi a risada explosiva de Everton, Osmar e Glauber rindo, Anderson e Plínio filosofando, Pedro contando as últimas novidades, Felipe e seus resmungos de sono, as meninas rindo, Karlinha, Juju e Gigi, enfim, todas as pessoas com quem um ano antes construí uma vasta e singular história.
Ao abrir os olhos, tal qual minha vida, encontrei uma sala vazia, fria e escura, sem significado aparente. Coincidência ou não, a cadeira onde eu sentava era a mesma, e tenho provas disso, que em 2001 eu sentava no segundo ano A. Nela eu escrevi "Nossos atos ecoam na eternidade", uma frase que usei sobre eu e uma pessoa. Não sabia que doeria tanto saber que tudo tinha passado e se resumido a ecos, lembranças e fotos. Era realmente triste saber que seis meses antes eu e meus amigos estávamos no topo, e que agora, eu voltei à estaca zero. Senti realmente falta deles e de tudo, até mesmo dos momentos ruins que tivemos, e não foram poucos. Seis meses antes eu era alguém, alguém de quem as pessoas lembravam, respeitavam, amavam, chamavam para as festas e gostavam de ouvir falar e esculhambar qualquer um, sendo a recíproca verdadeira.
Saí dali magoado e ferido. Não era a mesma coisa. Fui embora me molhando na chuva mesmo. Não me importava. Era até melhor, pois disfarçava minhas lágrimas. Finalmente se sentir na solidão total não foi nada agradável. Perceber que seu melhor momento havia passado, que tudo tinha acabado...
Aonde foram as festas, os risos, as piadas, os amigos? Demorei mais tempo do que imaginei para encontrar estas respostas e mais tempo ainda para recuperar o que tinha ficado nas paredes e corredores de meu colégio. Nossos atos ecoavam mesmo pela eternidade e por estes minutos e horas de alegria que tive, resolvi dedicar um tempo de minha vida a recuperar o que pudesse.
Algumas pessoas acho que perdi para sempre, outras anos depois eu consegui reverter a situação. As lembranças eu ainda tenho, mas muitas mais estamos fazendo agora...

Apenas alguns dias a mais...

Faltam três semanas para acabar o oitavo período e logo começarei meu internato. Parece mentira, mas é a verdade. Não vou mentir e dizer que sentirei muita falta da faculdade. Acredito que não sentirei nenhuma a princípio. Com o tempo, sentirei saudade dos poucos amigos que fiz, mas nos meus rodízios nos hospitais estarei com a maioria deles. Foram quatro anos em que eu entendi e repetia a mim mesmo uma frase clássica: você comemora dois dias na sua vida de faculdade, quando entra e quando sai. é a pura verdade. vou sair dali aliviado, mesmo sabendo que o inferno me espera em certos rodízios.
Desde o começo do período eu entrei em contagem regressiva, sendo cada dia passado uma vitória a ser amplamente comemorada. Ficou enfadonho e as pessoas que eu mal suportava agora até se tornaram toleráveis para mim, principalmente pela simples razão de que seriam os últimos momentos que passaria convivendo com a maioria delas, então não queria gastar minha energia tão querida continuando a detestar eles. Faltam só alguns dias para tudo terminar e começar o internato.
Depois desses quatro anos, que não foram os melhores de minha vida, nem poderão ser, mas foram importantes e decisivos, pois não sou mais aquele cara que começou a faculdade, vejo o quanto eu estava certo em dar valor às boas lembranças que eu tinha de minha vida no colégio e até mesmo no curto intervalo de um ano que passei estudando. Era uma época boa de se viver e apesar de períodos realmente difíceis para mim, guardo com carinho muito do que aconteceu. Meus amigos, pelo menos aqueles três malucos com quem jogo uno, ainda estão lá e mesmo mudados e agora adultos, sempre nos divertimos. Espero ter a mesma sorte quando sair da faculdade, pois foi das conversas e memórias que relembramos sempre que eu vi como foram bons os anos que antecederam a faculdade.
Faltam só alguns dias... Seja como for, se eu não tiver essa sorte outra vez, fico pelo menos contente em saber que meus quatro anos de sofrimento ali dentro finalmente vão terminar. que venha o internato e adeus a alguns, graças a deus!

Meu último dia de aula no colégio em 2002





A gente já vinha sofrendo com o fim da época de colégio desde o começo do ano. Sempre que alguém se recusava a fazer qualquer coisa, dizíamos que era a última chance. Eu perdi algumas, verdade, como o dia dos namorados que era sempre celebrado, mas depois dos dois grandes desastres que eu tive, não tinha motivos para celebrar. Aproveitei o trote dos roqueiros e essa foi a única vez na minha vida que alguém me viu de bandana, óculos escuros, camisa preta e corrente no pescoço, um mini Juvenal Antena, andando por aí. Pena que ninguém fotografou, mas acho que um e outro devem se lembrar. Eu vivia dizendo tanta coisa dos roqueiros despersonalizados de Caruaru, que se vestiam exatamente desta forma, tirando a bandana em alguns casos, que muitos deles não acreditaram que eu me vesti assim. Pelo menos uma vez choquei aquele bando de... deixa pra lá.
Meu último dia de aula no colégio começou como outro qualquer. Já tínhamos nos conformado e alguns já sabiam que a amizade ia muito além dos mil muros do Diocesano. Cheguei as 7:20 junto com Pedro e já encontrei Felipe com sono em sua cadeira, que nos últimos tempos vivia mudando de lugar. Everton encontrava-se sentado na parte do meio para trás da sala, conversando com Gláuber, amigo Alisson, Eribelton e as meninas. Rômulo permanecia um obelisco, numa postura impecável sentado na cadeira. Zema (que ele não invente de me processar por colocar o nome dele aqui), do lado esquerdo da sala, ao fundo, sentado perto de Tita, conversando não sei o que e provavelmente aliviado por não mais ter que aguentar todo mundo zoando de sua cara.
Eu e Pedro nos sentamos perto de Everton e sem perceber, era a última vez que faríamos isso no Colégio. Felipe se juntou a nós, reclamando do sono, mas logo se animou quando começamos a contar as fofocas de Pedro e as loucuras que cada um estava fazendo por aí. Começou a aula, sabe-se agora lá de que, mas ninguém prestava atenção. Pedro lembrou que era a última sexta feira da gente e o clima ficou algo pesado. Milagrosamente, dois bons amigos meus na época, Anderson e Plínio, vieram se sentar perto de nós e num dado momento, todos os caras estavam juntos.
Chegou o intervalo e o nosso ânimo foi renovado. Na praça de alimentação, pegamos umas mesas, como sempre fazíamos desde o começo do ano, e começamos a cantar qualquer coisa. Uma hora, o quarteto fantástico começou a desafinada e grotescamente a cantar Don't Break My Heart, causando risos em muitos. Nós, minha turma, éramos os reis do colégio, vários césares num lugar só. A melhor turma que se viu em anos e que até hoje é lembrada por muitos professores.
Os casais ficavam mais para um lado sempre, mas nesse dia estávamos todos juntos em peso. Karlinha e Geraldo perto de Juliana e Gigi. Everton e Ângela ao nosso lado. Até eu e Clarisse, que tínhamos acabado o namoro não fazia nem dois meses, sentávamos lado a lado e conversávamos. De minha parte nunca houve mágoa, não sei da dela, mas eu nunca me senti desconfortável em estar ao lado dela.
O intervalo terminou pela última vez, mas nós não paramos. Saímos fazendo trenzinho pelo colégio, cantando e perseguindo os professores. Invadimos a aula de Veridiano e o jogamos para o alto umas mil vezes, ele sempre colocando a mão na bunda para evitar que fizéssemos exames de próstata nele. Messias, coitado, não tomou essa precaução. Nivaldo, o grande Nivaldo de quem todos sentimos saudades das aulas de Matemática, ficou espantado com a demosntração de carinho dos "abestalhados da oitava A" que ele tanto gostava de chamar. O danado gostava da gente, podia dizer o que dissesse. Finalmente entramos na sala e nos preparamos para as duas últimas aulas. A última passou lenta e não durou quinze minutos. o professor praticamente nos liberou para conversar.
Dessa vez não choramos, como sempre fazíamos nas aulas de Antônio, apenas curtíamos cada minuto que restava. Cada peróla para ser guardada e as últimas histórias para serem escritas para no futuro, como agora, serem recontadas. Glauber ia jogar uma bolinha de papel em mim e usei sua pasta para rebater, jogando todos os papéis no chão, sem querer. Cássio, ruim que só ele, viu quando jogaram em Zema uma borracha e ele, com seu reflexo poderoso, olhou para a parede, de onde a borracha tinha ricocheteado, ao invés de olhar para o outro lado. Everton lembrou que somente Neto, que tinha reprovado, e João, que no começo do ano tinha se mudado para outra sala por um desentendimento, não estavam com a gente. Mas eles ainda apareceram na porta dando xau e por um instante eu quase fui às lágrimas. Lúcio também foi lembrado, tinha ido morar em Recife logo que terminou o primeiro ano, mas mesmo assim fez questão de ir para a nossa viagem à Fortaleza e ficou conosco no quarto. Lembramo-nos também de professores que tinham saído no fim do ano anterior e que sempre tinham seus nomes vivos em nossas mentes. Quem não se lembra das aulas de Química com Alf e Jairo Queixão, ou então Biologia com a estressada Mazé e Catarina, os cabelos de samambaia de Cátia e de Mário Jorge ensinando Termodinâmica?
O sino tocou, sino não, alarme mesmo, pela última vez para nós e eu até hoje me arrependo de não ter cumprido a promessa que fizemos de destruir ele. Ainda deixamos nossas marcas e nas paredes da sala: quebramos uma delas! Era feita de um material doido lá, dizíamos quer era papelão com gesso, sei lá.
Pela última vez saí de minha sala. Não voltaria mais para aula, somente para as provas, mas não era a mesma coisa. Passando pelos corredores, ouvi ecos de outras épocas e senti pontadas e mais pontadas no coração ao lembrar de algumas pessoas. Lembrei-me de como um ano e meio antes uma garota com quem eu acabara de começar um relacionamento foi me ver para se despedir, já que não morava nem em Pernambuco. Lembrei-me de outra que conheci tempos depois e por quem me apaixonei também. Lembrei-me de vários momentos hilários de cada turma, desde a sexta A até o terceiro ano A.
Passamos ainda um bom tempo do lado de fora conversando e cada um foi indo para a sua casa. Os planos ficaram para o futuro. Começava a fase dos vestibulares e faculdades. Tudo estava mudando. Tudo já estava mudado. Saudades daqueles tempos que não voltam mais. Pelo menos, temos as partidas de uno e sempre me sinto como naqueles dias...

Os Inesquecíveis Aviões Charques-98

Era a sétima A em 1998, uma das piores e mais legais turmas que o Diocesano já viu. O ano de 98 foi o ano das bolinhas de papel, das quedas de energia, da bolsa cheia de lixo, da suspensão e é claro, dos charques, os maiores aviões de papel que meu colégio já viu.
Era uma aula chata de português. estávamos todos entediados e até cansados de uma apresentação de geografia que fizemos nas duas primeiras aulas. As paredes da sala estavam forradas de nossos cartazes e um deles caiu perto de uma das lendárias figuras com quem não temos mais contato: Biu.
Ele era meio doido e mais sem juízo que a gente. Chamávamos de vários apelidos: Biu lutero, Bio das Galinhas, Bio-lola (esse eu não sei quem inventou), etc. Enfim, ele estava num de seus acessos de tédio e pegou um dos cartazes e deu na cabeça dele de fazer um avião. Antônio, que sentava ao meu lado, quando viu o tamanho do avião de papel, teve crise de riso e só depois conseguiu nos mostrar o que danado era que o fazia rir tanto. Claro, também rimos com o avião, mas pior foi quando ele foi finalmente lançado e vimos seu voo e o nome do lado: Charque.
O professor virou-se do quadro e viu uma sala inteira rindo ou prendendo o riso, mas não viu a estrela do dia, que havia pousado. O segundo voo foi mais engraçado ainda, pois dessa vez o professor viu, mas não jogou o avião fora, pediu para não fazermos mais isso. Não fosse a aula terminar em 2 minutos teríamos descumprido seu pedido.
A próxima aula foi ainda mais chata, mas antes dela roubamos mais algumas cartolinas e fizemos os novos Charques. O Charque-sem-sal, O Charque-com-macaxeira, O Shark (este para exportação), etc. Sempre colocávamos os nomes nos aviões. Minha banca virou o aeroporto de Guarulhos, pois ali era onde guardávamos cada avião. Quem diabos iria suspeitar de mim?
A aula foi de um professor substituto, um coitado que mal saiu da faculdade e não sabia pedir nem cachorro quente sem levar desaforo. A festa estava pronta. Ele virava para o quadro, 8 aviões cruzavam a sala. Chegou um momento em que começamos a fazer bolinhas de papel para lançar junto aos aviões. Parecia a segunda guerra mundial, principalmente por o lado de cá, que era o meu, não gostar do povo do lado de lá.
Era bolinha de papel e charque para tudo que é lado. Eu já estava com a barriga doendo de tanto rir. Era demais já. O engraçado é que o professor não percebia nada, já que quando se virava encontrava todos com cara de santo, menos Antonio, eu e Everton, que colocávamos a mão no rosto para prender o riso.
O dia terminou, mas a brincadeira não. Durante as próximas duas semanas mais e mais charques surgiram e foram para a lixeira, mas para cada um, uma história nova. Um deles atingiu o traseiro do professor substituto, que mais uma vez apareceu para dar aula. Outro, na hora do intervalo, passou de raspão na cabeça da diretora. um cruzou o corredor, entrou numa sala e só ouvimos o grito da professora. enfim... O resto, é história... Um viva aos saudosos Charques!

Por que diabos o Renato Aragão não dá uma boneca de aniversário à filha e no...

Quando eu era pequeno, meu velho sempre me levava ao cinema para ver os novos filmes dos trapalhões. Muitos eu vi ainda novos na locadora e quantos de nós naquela época não riam com didi, dedé, zacarias e o grande mussum? Era uma coisa fora de sério. de noite no domingo, depois de dar um passeio de carro pela cidade com a gente, meu pai fazia questão de assistir ao programa que na época era sensação. O tempo passou, dois deles se foram, dedé nem mais aparece junto ao renato aragão e fica fazendo aquele programa péssimo no sbt, mas os filmes do didi sempre aparecem. Honestamente, após a morte de zacarias e mussum, eu pensei que ele daria início à sua aposentadoria. errado. Continua a fazer filme e depois dessa última filha, acho que é trigésima nona, a coisa piorou. As piadas dele são as mesmas sem o requinte de antigamente e as lições de moral já estão batidas. uma vez ou outra ele tenta uma jogada tecnológica, mas os filmes são fracos mesmo. Pior é a tal da lili. Credo. Essa coitada não poderia ser gente e fazer como qualquer criança com cara de débil mental faz? ir para a escola, se esconder da imagem do pai famoso, crescer, reproduzir na adolescencia, virar um problema e lá na frente fazer um documentário falando mentiras e amenizando as coisas? Não. tem que todos os anos receber de presente uma "mega" produção com um "grande" elenco. não que os atores que estão com uma orgulhosa participação em malhação ou que estão parados há séculos ou provavelmente passando fome não tenham seu crédito, mas isso é demais. Os filmes dele, e da xuxa também, com meio milhão de espectadores (em 8 meses em cartaz), são mal feitos, mal musicados, mal filmados, mal tudo. a história é sempre a mesma, principalmente no caso do didi, o título diz tudo e pior, tem gente que acredita que no outro ano ele não faz mais. sei não. queria botar ele para ver o filme com uma boa platéia: diga-se de passagem crianças sem más formações cerebrais. se ele quer fazer a filha feliz, tudo bem, dá para aguentar, mas precisa lobotomizar os pobres pirraios da idade dela?

O novo Indiana Jones

Novo nada, é o velho dr. Henry Jones Junior mesmo. E ainda bem que ele admite no filme que não é mais jovem, mas mesmo assim faz mais do que muito marmanjo por aí em filmes sem roteiro e com muita bala. Logo no início, a referência à arca da aliança chega me fez sorrir e vê-la de relance foi mais do que satisfatório. sempre quis saber que danado de depósito era aquele no primeiro filme. Uma cena comovente é ele lamentando as mortes do pai e de Marcus Brody. Sean Connery foi muito sacana em não ter aceito o papel do pai de Indiana Jones, um de seus melhores até hoje, e a referência à morte dele bem pode ser uma piada dos roteiristas. É interessante ver como um ator limitado como Harrison Ford, limitado mas que trabalha duro, demonstrar em dois closes o quanto sente falta daqueles dois e o quanto se sente sozinho. Realmente, chegar numa fase da vida em que se perde mais do que se ganha não é fácil para ninguém. O segundo ato está entre meus favoritos, pois a química de Shia LaBeuf e Ford lembra muito a de que ele tinha com Connery, além, é claro, das constantes lembranças do mais novo sobre sua idade. "Passou dos oitenta" merecia um belo soco!
Claro que o professor Oxley desestabilizou a trama no meio do filme. Lembrar que aquele devia ser o pai do Jones e não um velho amigo só mostra o quanto o roteiro foi mudado com a recusa de Connery, mas ainda assim há competencia de sobra para reduzir o dano. Ox completamente fora do mundo é fantástico, principalmente com Jones se afundando na lama e o homem lá, olhando para ele com cara de imbecil. As cenas de jones com sua antiga namorada e ex-noiva, como viemos a saber, Marion Ravenwood, a filha do Abner, e sua confissão de que o jovem Mutt chama-se Henry Jones Terceiro é a melhor parte do filme. Só a cara do homem do chapéu e chicote quando a vê é engraçada e as discussões deles pelos próximos minutos são tão boas quanto Jones Senior e Jones Junior correndo dos nazistas. Eu mesmo notei a referência ao terceiro filme quando Mutt, ou Indi Junior, passa o canivete para seu novo pai e ele o deixa cair antes mesmo de usar. Como não é atrapalhado como Jones Senior, Jones só faz dar o susto e corta as amarras.
Depois de uma luta de esgrima, cipós, formigas gigantes asssassinas comedoras de russos, bazucas, tiros, mudanças de um lado para o outro da caveira de cristal, e três quedas incríveis, a última a mais hilária que eu vi em anos, vamos à tradicional parte em que os mistérios são revelados. Isto para mim nao passou de uma homenagem aos filmes B dos anos cinquenta e como a saga de Indiana Jones foi concebida para ser um filme B em homenagem aos filmes B dos anos 30, nada mais lógico do que fazer o mesmo num período vinte anos depois.
Por fim, temos a grande reunião de família e faço coro com o professor Oxley, de volta à razão: quantos anos de nossas vidas não esperamos por este momento?
Eu passei minha vida toda querendo saber se teria outro filme e agora só espero saber se em breve terei mais hiostórias...

De onde tiro minhas idéias doidas para meus livros que ninguém lê!

Sendo direto: de minha própria vida na maioria dos casos.
Meu primeiro livro, os camaleões, saiu como uma tentativa de mostrar como eram idiotas e fúteis umas pessoas que eu conheci e até agora dou graças a deus de não falar com a maioria delas. Eu detestava aquele povo e eles até me prejudicaram e riram de mim num momento muito difícil em novembro de 2001, entaõ resolvi descontar minha raiva na história. no fim, virou uma terapia e esqueci que os detestava tanto, ao ponto de esquecer que a maioria deles existia e cada personagem seguiu seu caminho.
O segundo, que terminei na época em que dava retoques no primeiro, chamado máscaras reais, foi um conto estilo fábula, uma coisa que hollywood bem podia transformar num bom musical ou num filme teen desprezível, e sua inspiração básica veio de partes de minha até então desastrosa vida amorosa. partes boas, diga-se de passagem. e acredito que seja minha melhor história até hoje.
O terceiro, que terminei até em tempo recorde para seu tamanho, 200 páginas em 6 meses, comecei já na faculdade, como uma tentativa de fugir do horror que ela é. No livro só mudei um nome, o meu, e adicionei alguns personagens caruaruenses que nada tinham a ver comigo, uma personagem feminina que era real e outra que eu só fiz ver um dia a pessoa perambulando pela faculdade e decidi dar-lhe um nome, personalidade, história e o resto. não é dos melhores, mas foi o primeiro que me rendeu uma continuação.
O quarto livro foi um projeto antigo finalmente realizado. Um presente para uma namorada. Tinha tentado isso antes, mas o namoro acabou antes que eu terminasse o livro. passei alguns anos com este trauma, mas finalmente o venci. haviam 3 de mim na história, um carro voando, e algumas coisas de que não gosto de comentar por aí com qualquer um. pode não ter sido meu melhor, mas foi o que fiz com mais gosto.
O quinto, no qual estou trabalhando para terminar este ano, há 3 anos que está em fase de produção. é continuação do terceiro, se passando num período de tempo de 6 meses e quem sabe um dia eu faço uma terceira parte e continuo a saga? Está cada vez mais distante de minha história real, só com uns pontos para ilustrar, e os personagens reais da faculdade não passam de cenário na maioria do tempo.
Os demais, são incompletos e projetos. Alguns são romances, outros ficção científica. Mas eu termino um dia.

Curioso....

Eu quase que acabei fazendo Arqueologia! Era 2003 e eu ia me inscrever para o vestibular. Eu e ray compramos os manuas e ela me ajudou a preenxer os dados. Quando chegou no curso, eu vacilei. Ela provavelmente pensou que eu queria Fisioterapia ou Odontologia, mas quando eu dise que pensava em fazer Arqueologia no Piauí, ela quase tem um troço! Então eu dei uma saída, não lembro se para comprar algo ou ir ao banheiro, e quando voltei ela tinha posto Medicina... De caneta! Depois de meia hora de conversa, ela me convenceu de que eu só estava fugindo do meu medo de não passar outra vez. Como seria se ela nada tivesse feito? Creio que seria tão feliz quanto sou hoje, mas seria uma pessoa totalmente diferente. Curioso pensar nisso...