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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sobre ser Dark

Não tenho nada com o tema Dark utilizado nos filmes recentes do Homem-Morcego. Para falar a verdade, já estava na hora dele ser tratado como é nos quadrinhos, assim como seus vilões e personagens secundários. Batman é um personagem sombrio, mesmo sendo o herói. Ele não nasceu em outro planeta, não recebeu um anel de poder, não tem mutações genéticas que lhe dão poderes, nenhum bicho lhe picou, ele simplesmente traduziu seus traumas e sede de vingança e justiça pela morte dos pais num arquétipo. Ele decidiu ser super-herói. Mas não venho aqui para falar sobre meu personagem favorito dos quadrinhos, mas da deturpação que fizeram da idéia por trás do tom denso e muito bem aplicado nos recentes filmes.

Por ter feito o sucesso que fez, em comparação ao modesto Superman – O Retorno de um ano antes, O Cavaleiro das Trevas meio que abalou o mundo. O magistral coringa de Heath Ledger, o sofrimento pelo qual Wayne passa, a cidade entrando num verdadeiro caos, um circo com um palhaço sinistro no comando, e o desfecho atraíram o público muito mais do que se poderia imaginar para um filme do gênero. Portanto, por que não usar da mesma fórmula?

Dezoito meses atrás, mesmo antes da estréia de Batman, havia uma série de comentários sobre o novo filme do Homem de Aço, do primeiro do Lanterna Verde, até um filme da Liga da Justiça estava sendo considerado. Então depois do filme do Morcego, os roteiros seriam revisados, a palavra “dark” ou a expressão “uma versão dark”, surgiu, remetendo ao sucesso mundial recente. Não ficou só nos filmes sobre heróis de histórias em quadrinhos, espalhou-se para os demais gêneros, poupando apenas uns poucos.

Não nego que este filme em particular redefiniu o que tínhamos. Na minha opinião, será difícil fazer um terceiro ainda melhor. Mas o filme deu certo não por ser “dark”, ele não tinha como não ser diante da premissa seguida, e sim por ter sido o mais bem escrito até então. Escrito, trabalhado e bem cuidado, com uma estratégia de marketing das mais inovadoras e por que não dizer ousada. Isto é que fez de O Cavaleiro das Trevas superior e imbatível em relação aos antecessores. Não tinha como não ser aquele tema, mas poderia muito bem ser uma carnificina sem motivo nenhum, um vilão tão assassino que se mata como personagem no primeiro ato. Vale lembrar que a parte sofrível do último filme do Homem Aranha é exatamente quando ele fica mau... dark! Mal escrito, mal dirigido, minutos que quase botam a perder mais de 7 horas da trilogia.

Talvez isso não foi bem analisado na indústria cinematográfica, que mais uma vez viu o resultado antes de ver a fórmula que o fez. Usou e abusou da palavra, contaminou os meios de comunicação e pôs na geladeira projetos que já estavam bem encaminhados, tudo para colocar uma roupagem mais... bem, dark! Confundiram a palavra com outra que sempre faz falta, “realismo”. Claro, por realismo não é acreditar que um homem pode voar, mas acreditar que se houvesse e alguém tentasse destruir ou dominar o mundo, a cidade, a vila, a sociedade fosse exatamente daquele jeito. É uma suspensão de descrença não tão suspensa assim, é uma aceitação analítica e crítica de uma fantasia ali mostrada, que nos traz as emoções que podem e devem ser passadas.

Eu não quero ver o Último Filho de Kripton dark, não quero ver o Amigo da Vizinhança, vulgo Homem Aranha, ou qualquer outro herói fora do que sua proposta e universo são. Não quero vilões que devam ser mais insanos do que realmente são. Pingüim não irá gargalhar, Luthor não falará como ventríloquo. Parker não falará rouco quando usar a máscara, Hal Jordan não se esconderá sob sua máscara. Quero-os bem escritos. Realistas. Até fantásticos. Algo que chegue perto do superlativo, mas me traga alguma verossimilhança.

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