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quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Cinema nunca foi mudo

Para meu primeiro texto nesta coluna, resolvi falar de uma agora pouca valorizada e mesmo esquecida época do cinema, a época em que o cinema ainda não falava, quando era "mudo".

Não concordo com este termo, pois a sétima arte não se expressa apenas por palavras. Será que Chaplin não se fazia entender? Alguém deixou de rir com os filmes iniciais de O Gordo e O Magro? Valentino, Mary Pickford ou Joan Crawford deixaram de causar suspiros? E hoje em dia, será que um filme ótimo com uma trilha sonora sofrível não diz nada? Um som nos faz lembrar de um filme inteiro. Faça um teste. Qual o tema de Rocky? De superman? De indiana Jones? E Titanic?

Mais de cem anos atrás, quando o mundo admirava as mentes criativas dos irmãos Lumiére e de Georges Melies, estávamos a três décadas de vermos os primeiros filmes



falados. Alguém, num dado momento, percebeu que a platéia não se deslumbrava mais como antes, bocejando, não tendo as surpresas esperadas nas cenas de maior impacto e no climax no filme. Alguém decidiu tocar uma pianola, depois um piano de armário, como se faziam nos espetáculos de teatro, e tudo mudou. Um trêmulo quando o vilão ameaçava a mocinha, o allegro quando dois amigos se encontravam, uma melodia mais doce quando saía uma declaraçaõ de amor, tudo isso prendeu a atenção e aumentou as emoções daqueles que ficavam diante da grande tela.

Mesmo assim, havia um outro ruído, que permanece até os dias atuais, e que um dia irá desaparecer: o do projetor funcionando. Aquele velho tec-tec-tec que quando para antes do tempo faz todos olharem para trás, irritados, como que tirados do mundo, tensos, com medo que o filme não volte mais. Nas primeiras sessões, na década de 1890, no início da era de ouro da modernidade, aquela estranha máquina no fundo da sala escura, sempre fazendo seu barulhinho, mostrava ao mundo uma fração do seu potencial. este som, este ruído, como já dito, permanece até hoje e é uma pena que desapareça um dia.

Então, tal qual uma criança, que quando pequena incialmente balbucia, ri e chora, e que depois aprende a falar, mas que desde cedo dá suas mostras de emoção. Ainda assim, não dizemos que a criança pequena é muda, dizemos que ela faz barulho. Da mesma forma cresceu o cinema, de um ruído puramente mecânico mostrando que o projetor estava ligado, ao piano, depois orquestra, que traduziam a emoção que se queria passar, indo para as cartelas com as poucas "falas" dos personagens ou da narrativa, para depois finalmente, e no começo um horror aos ouvidos de muitos, as primeiras palavras realmente faladas, audíveis. O cinema não era mudo, só estava na primeira infância...

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