Pesquisar este blog

domingo, 12 de setembro de 2010

Meu discurso na aula da saudade da faculdade

Quando me deram a honra por escolhido para fazer este pequeno discurso, não imaginava o tamanho da bronca que era. Fred, meu amigo, muito boa sorte amanhã. Não fique nervoso!

Estando aqui, na frente de todos vocês com quem vivi e convivi nos últimos 6 anos, só consigo pensar que, antes de tudo, esta turma deixou sua marca na história da FCM-UPE.

Nossos atos deixam marcas que duram pela eternidade. Nós mal entramos na faculdade, mal nos conhecíamos, mal lembrávamos dos nomes de quem estava sentado ao lado, de onde cada um veio, mal sabíamos andar pela faculdade e o que ela realmente era, fomos convocados a lutar pela sobrevivência de um hospital que ainda não tínhamos nos acostumado a chamar de nosso. Foi neste momento de crise que a história da turma de medicina 2010.1 começou. E ajudamos a salvar o hospital, comparecendo em maioria na manifestação.

Tivemos períodos difíceis, épocas difíceis, festas, eleições, provas... e o internato. Fomos monitores, políticos, colegas, doutorandos... Agora estamos nos formando e podemos dizer que estamos nos tornando médicos.

Nestes 6 anos, mudamos. Amadurecemos. Ganhamos habilidades, descobrimos algumas e perdemos outras tantas. Anos de abdicação em todos os campos, em busca do sonho que se realiza nesta longa e festiva semana. Anos que vivemos os melhores momentos e piores momentos.

Encontramos refúgio em nossas famílias, amigos, amores, todos nem sempre morando na mesma cidade ou estado que nós. O exemplo e a trajetória dos mestres nos serviram de alerta e inspiração. Mas no meio de tudo, foram nossos amigos de sala, aqueles que estavam vivendo a mesma dificuldades, obstáculos e decepções, que tiveram a chance de fazer a diferença.

Podemos não ter sido a turma mais unânime dos últimos 60 anos, entretanto, cada um de nós pôde encontrar na pluralidade de personalidades e idéias, na dissonância, encontrar alguém para chamar de "meu amigo".

Nossa turma sempre será ímpar. Podemos dizer que temos amigos por todo o nordeste e que trouxeram um pouco de sua história e cultura para nossas vidas. Nossas diferenças algumas vezes nos legaram dificuldades, mas nos deixaram um aprendizado contínuo e a lembrança de que o diálogo pode ser sempre usado para superá-las e que a compreensão não é só um ato, mas um dom que todos nós devemos cultivar.

Observando uns aos outros nas práticas, pudemos reconhecer erros e acertos, defeitos e qualidades, e como cada um lidava com suas limitações. Na insegurança do colega, tínhamos um espelho da nossa própria, e como foi bom ver nossos amigos trabalhando-a, acolhendo-a, progredindo e avançando, sendo um alívio saber que medicina não é impossível.

Desde os primeiros dias, fomos paulatinamente apresentados à rotina de nossa futura profissão. Durante os plantões, monitorias e principalmente, o internato, convivemos com pessoas que sempre podiam trazer um ensinamento. Para alguns, demos as boas vindas ao mundo e fomos seus primeiros médicos. Para outros, demos o adeus, mas espera-se que a cada um que partiu diante de nossos olhos, tenhamos a sensação de ter feito o possível para pelo menos lhe preservar o mínimo de dignidade.

Desta forma, quando dentre os primeiros tijolos de nossa formação foram assentados, o cuidado com o paciente esteve entre eles, sempre presente e constante. Mesmo para nós, naqueles dias iniciais de uma longa trajetória, quando éramos não mais do que leigos um pouco diferenciados, ficou claro que se não formos médicos no coração, todo o resto não passa de mera burocracia e conhecimento técnico.

Sejam quais forem nossas divergências no passado, esta turma deve ter como uma de suas qualidades o cuidado de se aprimorar em todos os campos, não só pelo bem individual, mas também por aqueles que deixam em nossas mãos o cuidado de sua saúde.

Agora, nos despedindo de seus anos laboriosos, seremos conhecidos não apenas pela turma de medicina 2010.1, mas como a turma “Mãos com o Dom de Curar, Olhares Capazes de Confortar”. O dom de propiciar a cura não é comum, e por isso mesmo deve ser uma dádiva a ser protegida e nutrida. Mas, mais importante, apesar de toda a grandiosidade que nos depositam nos ombros, é sermos humildes para admitir que nem sempre saberemos tudo, nem sempre poderemos salvar uma vida, apenas diminuir seu sofrimento. É neste momento que mais teremos nobreza, pois o conforto pode ser tão curativo quanto qualquer outra terapia e sair do pedestal que a sociedade nos lega muitas vezes requer não só humildade, mas coragem e força de caráter.

Por fim, já que me alonguei demais e se não parar em pouco tempo terei que tomar um beta-bloqueador ali na emergência, contarei uma história inspiradora. Dizem que Luis XIV, o Rei Sol, estava doente e ouviu falar de um médico famoso, que era muito bem conceituado por seus pacientes e suas famílias. Dizia-se que era brilhante em todos os sentidos e que era acima de tudo humilde com suas habilidades. Foi então este jovem chamado à presença do rei que lhe disse: Espero que trates de teu rei melhor do que tratas teus pacientes. O médico respondeu: Impossível, Majestade, pois já os trato como reis.

Que esta história possa ser seguida e que ecoe na lembranças de todos que viram esta bela placa, que simboliza nossa passagem, mas é muito menor do que tudo o que realmente fizemos. É só uma marca, dentre tantas outras que perdurarão. Espero que todos, ao retornarem aos seus lares, lembrem-se com orgulho dos melhores e piores momentos, dos laços que cedo ou tarde se formaram e tenham sempre em mente que tudo valeu a pena. É um orgulho fazer parte desta história. A nossa música pode ter acabado, meus amigos, mas a melodia continua. Obrigado.

Veja no youtube tb:

http://www.youtube.com/watch?v=__z-lrcRKCg&feature=player_embedded

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Breve opinião sobre a greve dos residentes

A greve dos residentes de medicina que já dura mais de duas semanas perde o fôlego a cada dia em pernambuco. coagidos por ameças e indiretas de seus chefes, um a um os residentes vão voltando aos serviços, deixando como justificativa para seus colegas que ainda lutam a necessidade de cuidar dos pacientes. tudo bem, não discordo que os paciente poderiam ser lesados, mas este não é o fato. este apelo não é apenas jogo baixo, como também prejudica a todos. os residentes trabalham pelo menos 60 horas semanais, estão não só atendendo pacientes, mas fazendo um bem às instituições, pois oferecem uma mão de obra especializada, que está sempre em aperfeiçoamento, e a retribuição é, na melhor e mais conservadora das hipóteses, mesquinha.
condições péssimas de trabalho, superlotação, falta de tempo, e preceptores muitas vezes mais despreparados do que um pobre doutorando do nono período recém ingresso no internato. esta é a realidade que muitos enfrentam, quando não é pior. suas reivindicações, que não param apenas na questão do aumento da bolsa, e não salário como a mídia gosta de chamar, passam por estes problemas.
Infelizmente, como é lugar comum no Brasil, muitos colegas e preceptores não tem um pouco de sensibilidade e caráter para entender o movimento e usam de todos os artifícios que têm a mão para minar seus esforços. há lugares que são exemplo, como um hospital escola em que os preceptores estão indo todos os dias ver os pacientes, mantendo a maioria dos ambulatórios e muitos me disseram que o serviço não parou por conta da greve. sim, não são só os médicos residentes que podem cuidar dos pacientes, seus preceptores, que por sinal são médicos, poderiam fazer isso também. Muito mais honrada esta atitude do que ameaçar seus residentes de processo ético no conselho de medicina. Pergunto-me se é ético combater os que querem melhores condições de trabalho e ensino. Claro que não, e respondo a uma pergunta retórica minha simplesmente por um motivo: a coisa é tão absurda que é melhor dizer tudo repetidas vezes para ver se algum desses chefes intolerantes entende.
Estou agora estudando para tentar entrar nesta seleta classe, mais seleta do que a que estou no momento, e além de querer um serviço de referência, bom, com preparo para me preparar, gostaria que quando outra vez fosse reivindicar meus direitos, não me sentisse um fora da lei, violando os princípios pelos quais prestei um juramento e ainda por cima, vendo aqueles que eu deveria ter como referência se comportando como imbecis.