Chaplin e Disney estão aplaudindo lá do céu. Jamais imaginei que um desenho em que praticamente não há diálogos e que os personagens principais não dizem mais do que dez palavras pudesse ter um roteiro tão bem escrito. Wall-e é a reencarnação do Chaplin de Luzes da Cidade, ingênuo, trapalhão, engraçado, desastrado e um romântico incorrigível. Ele personaliza perfeitamente todas as fases pelas quais todos nós já passamos uma vez quando mais novos ao olharmos para uma pessoa e acharmos que ela é o amor de nossas vidas. Ele se apaixona pela simpática robozinha Eva, que lembra mais um ovo de galinha com capacete, e a partir daí ele consegue mudar literalmente a monótona história da humanidade.
O mérito não vem só do humor pastelão, mas das expressões que Wall-e, com o visual de torradeira com binóculos sobre esteiras, brilhantemente e comicamente apresenta. Do seu jeito tímido em se aproximar de Eva e da própria Eva, que muda sempre o tom da "voz", indo desde um jeito totalmente senhor spacely de chamar seu amigo até um mais carinhoso. Uma só palavra, Wall-e, traz diversas emoções, o que serve para mostrar o quanto desperdiçamos palavras sem carregar nenhum sentimento por trás. Para completar, Eva possui olhos digitais que acompanham seu humor, tornando-a tão cativante quanto o próprio Wall-e.
Fantásticas cenas como o balé espacial, Wall-e se enamorando de Eva, tomando conta dela, e toda a sequencia de confusões da nave espacial Axiom, no qual estão nossos descendentes calmamente não fazendo droga nenhuma, são absolutamente perfeitas. O visual é o de menos, pouco importa a qualidade gráfica, a história tem tudo aquilo que um bom desenho para todas as idades deve ter: humor, ação, romance e lições de moral que a cada vez que se assiste ao filme ganham novas perspectivas. Cuidar do planeta, não ser ocioso, acreditar em si mesmo, amor existe, etc...
Ah, e os coadjuvantes... Ah se as baratas fossem assim... E os robôs loucos? Como sempre, são eles que dão um toque especial...
Seja como for, aparentemente estamos vendo uma era nova surgir, tal qual Disney criou após Branca de Neve, com filmes irretocáveis que após tantos anos são ainda uma boa hora de diversão e fantasia para qualquer um que aprecia o cinema. Senhor Disney e Senhor Chaplin, os senhores estão honrados neste belo filme...
